domingo, 4 de abril de 2010

Quem conhece um mulherão?


Esses dias fui ao mercado, e enquanto esperava pelo atendimento do caixa percebi uma face familiar. Encarou-me. Sumiu. Logo a dona da face reapareceu e com voz humilde e um tanto simpática perguntou se meu nome é Bruna. Respondi que sim e lembrei quem é a moça.
Alguns anos atrás fui substituir uma professora, na escola conheci pessoas legais que me acolheram com carinho e respeito (algo geralmente incomum a uma inexperiente estagiária do curso normal), senti que alguém me admirava. Era a moça do mercado, que por anos se dedicou ao trabalho voluntário na escola. Levava o filho para a aula no turno da tarde e nesse período dedicava sua atenção às crianças da pré-escola. Conversamos muito, me contou que casou cedo, engravidou e desde então sua vida se resumia em doação: ao marido, ao filho, tarefas de casa e voluntariado. Mas que o cônjuge não permitia que voltasse a estudar ou que trabalhasse "fora". Talvez eu representasse a juventude que não aproveitou o quanto gostaria, ou a realização de um sonho dela, ser professora ou pelo menos ter uma profissão.
Quando revi a moça trabalhando no mercado, me senti feliz, foi uma conquista. Sentir-se útil, ter seu salário, deixar aflorar o mulherão que tanto tempo reprimiu.
Acredito que mulherão é quem batalha todo o dia, como a moça do mercado, que cuida da casa, do marido, trabalha "fora", cuida de sua imagem (ela está mais bonita), ou como descreveu Martha Medeiros em sua crônica O MULHERÃO, "aquela que mata um leão por dia".
Mulherão para mim são mulheres que vemos todo dia, estudantes, donas de casa, empresárias e todo tipo de mulher que vai a busca dos sonhos, que mantém sua identidade, que TPM nenhuma derruba.
Se algum dia fui motivo de admiração para essa moça, hoje a admiro pela coragem de mudar, pela volta por cima, por ser um mulherão de verdade!