quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A nossa velha infância


    Existem datas especiais no calendário que nos fazem lembrar e presentear pessoas importantes na nossa vida. O comércio adora a Páscoa, o Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças, Natal e aniversários.

    No dia 12 de outubro deste ano estava conversando com um amigo e comentei que não havia sido convidada a participar de uma festa para crianças pelo meu irmão de oito anos, a resposta foi imediata: Acho que porque tu cresceu um pouquinho. Não satisfeita, questionei sobre o fato de crescermos, deixarmos a infância. Ele respondeu que na idade adulta devemos trabalhar e se estressar, contudo, podemos sair sozinhos à noite, viajar sozinhos, governar um país e mais uma lista de coisas “boas”.

    Mesmo com tantos argumentos tentadores continuo pensando que bom mesmo é ser criança. Existe fase melhor na vida que a infância? Eu trocaria as saídas à noite pelas muitas tardes brincando na rua, substituiria o trabalho, o salário e o estresse por oito horas de muita brincadeira, R$ 5 de mesada, muita risada sem hora marcada e pudor. Viajaria mas mil vezes com a família da minha amiga Jú, não governar nada mais que uma bicicleta, e ainda achar que todos os homens são lindos e perfeitos como o Ken (esposo da Barbie), que cansaço é chegar na fase do Céu no jogo de elástico, que sorte é acertar as pedrinhas na casa certa na Amarelinha e só ficar triste quando anoitece e a mãe grita no portão que está na hora do banho.

    Foi uma época incrível e as amigas eram ainda mais. As irmãs mais velhas sempre rabugentas mandavam eu chispar da casa delas. Esforço em vão, sempre estava lá, dias ensolarados, chuvosos, gelados, com catapora ou sarampo. Brincávamos de tudo. Éramos atrizes de novelas mexicanas, passistas do Carnaval do Rio de Janeiro, colecionadoras de brindes do Kinder Ovo, Paquitas da Xuxa, professoras e tudo mais o que a imaginação permitisse.

    Sempre é bom lembrar de momentos felizes, das brincadeiras simples e divertidas, dos jogos feitos com meia calça velha da mãe, com vassouras, bonecas, giz e pedrinhas. Os tombos com a minha Caloi Ceci vinho. Momentos saudosistas que também foram inspiração para o grande escritor Casimiro de Abreu em “Meus oito anos”: Oh! que saudades que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais.

    Mas os dias de Xou Xuxa, Trapalhões, He-Man, Caverna do Dragão, Pica-Pau e Mara Maravilha terminaram e o jeito é enfrentar as responsabilidades e compromissos que nos cabem com a mesma alegria de um convite para Amarelinha ou coisa do tipo.

     Carrego valores que nenhum computador ou MP15 podem ensinar, aprendemos com pessoas, através das brincadeiras de rua, da cumplicidade que construímos com amigos para esconder as travessuras dos "adultos".  Da minha infância restaram muitas lembranças boas e amigas quase-irmãs que me acompanham sempre, é o que guardamos de melhor na vida. Deixamos as bonecas e as panelinhas de lado, choramos juntas por um amor perdido, dividimos a culpa em devorar brigadeiros, nos emocionamos ao ver a amiga casar ou esperar um bebê. Sempre resta um pouquinho da criança que fomos um dia. 

sábado, 2 de outubro de 2010

Bem-vindos ao show da democracia

   Durante os últimos meses, os assuntos mais abordados nos lares brasileiros tratam das Eleições 2010. Neste ano devemos renovar os cargos de Presidente da República, Deputados Estaduais e Federais, Senadores e Governadores. São várias legendas, muitos candidatos e incontáveis promessas. A cada programa eleitoral somos obrigados a assistir o show de asneiras e agulhadas dos infinitos candidatos; uma pena que aqueles que realmente têm propostas sérias não possam se expressar. Difícil eleger alguém que tem poucos segundos para falar, que sequer gravamos o nome e, infelizmente, esquecemos sua legenda.

   Não disponho de muito tempo para assistir horário eleitoral gratuito, pois justamente nesses horários estou me deslocando para o trabalho e para a universidade, mas essa falta de tempo é suprida nos finais de semana, quando recebo vários e-mails contanto os furos e absurdos mostrados na TV aberta, sem contar com a lista de vídeos “bizarros” de campanhas políticas postados no Youtube. Alguns parecem quadros de programas humorísticos.

   Falando em humor, não deixaria de lembrar do abestado, o Tiririca. Com o slogan “vote Tiririca, pior do que está não fica" conseguiu conquistar muitos votos. Já que está tudo liberado entre os engravatados e ninguém faz nada pelo povo, ao menos o nordestino foi criativo o suficiente para causar indignação enquanto puxa brasa à sua sardinha.

   Além do intérprete de Florentina, entre os paulistanos existem muitas outras celebridades, alguns não tão famosos, mas conhecidos: Maguila, Mulher Pêra e Cameron Brasil. Um foi lutador de boxe, a Mulher Pêra faz o que mesmo? Ah, e a Brasileirinha. Isso mesmo: a moça que aderiu “Cameron” como nome artístico é atriz de filmes para adultos e seu slogan é “vote com prazer”. Não preciso nem comentar o resto. É isto o que chamamos de espetáculo da democracia?

   Não bastasse todo esse forrobodó, recebo esta tarde em meu trabalho um telefonema de uma empresa de pesquisas, tratando adivinhem do quê? Eleições 2010. A surpresa foi alguém perguntar a minha opinião. Em uma aula de “Pesquisa da Educação”, disciplina do meu curso, falávamos sobre tipos de pesquisas e eu comentei que embora a Dilma e o Serra possivelmente fossem para o segundo turno das eleições para presidente do país, eu ainda não havia sido consultada pelo Ibope e nem mesmo pelo Datafolha. As pesquisas realmente existem, e agora posso afirmar, são tendenciosas.

   Primeira pergunta da Bianca, operadora treinada do instituto de pesquisas: “Se as eleições fossem hoje, em quem você votaria para presidente? Dilma, Serra ou Marina Silva?” Acho que a mocinha esqueceu do Américo de Souza (PSL), Ivan Pinheiro (PCB), José Maria Eymael (PSDC), Levy Fidélix (PRTB), Plínio Sampaio (PSOL), Rui Pimenta (PCO) e do Zé Maria (PSTU).

   As outras questões perguntavam se votaria em Dilma ou Serra no segundo turno, se os dois teriam condições de comandar o nosso país (e prosseguia, indicando, em outras palavras, que nosso país está no auge do desenvolvimento econômico). Quem elaborou esse questionário? O Lula?

   Ignoraram os demais candidatos, sobrou a elite, os que pagam por pesquisas tendenciosas como essas. Questionei sobre as opções dicotômicas oferecidas (Dilma ou Serra) e a entrevistadora disse que eu poderia dizer: nenhuma das opções. E foi assim que a entrevista terminou.

   Como podemos acreditar que outros candidatos têm chance de ganhar ou que merecem nossos votos se eles não dispõem de iguais oportunidades para expor suas propostas? Como as pesquisas podem apontar a vitória de tais candidatos se sequer oferecem outras possibilidades?

   Lamentável. A ditadura militar que teve fim em 1985 nada nos ensinou, a liberdade e a democracia que conquistamos ao longo desses 25 anos não é tão perfeita quanto parecia no começo da nossa luta. Somos desprezados como os candidatos dos pequenos Partidos e Coligações. Concordo com o termo usado por um grande amigo e colunista “os anões ignorados”. Somos pequenos diante do grande circo montado, o show da democracia.