sábado, 2 de outubro de 2010

Bem-vindos ao show da democracia

   Durante os últimos meses, os assuntos mais abordados nos lares brasileiros tratam das Eleições 2010. Neste ano devemos renovar os cargos de Presidente da República, Deputados Estaduais e Federais, Senadores e Governadores. São várias legendas, muitos candidatos e incontáveis promessas. A cada programa eleitoral somos obrigados a assistir o show de asneiras e agulhadas dos infinitos candidatos; uma pena que aqueles que realmente têm propostas sérias não possam se expressar. Difícil eleger alguém que tem poucos segundos para falar, que sequer gravamos o nome e, infelizmente, esquecemos sua legenda.

   Não disponho de muito tempo para assistir horário eleitoral gratuito, pois justamente nesses horários estou me deslocando para o trabalho e para a universidade, mas essa falta de tempo é suprida nos finais de semana, quando recebo vários e-mails contanto os furos e absurdos mostrados na TV aberta, sem contar com a lista de vídeos “bizarros” de campanhas políticas postados no Youtube. Alguns parecem quadros de programas humorísticos.

   Falando em humor, não deixaria de lembrar do abestado, o Tiririca. Com o slogan “vote Tiririca, pior do que está não fica" conseguiu conquistar muitos votos. Já que está tudo liberado entre os engravatados e ninguém faz nada pelo povo, ao menos o nordestino foi criativo o suficiente para causar indignação enquanto puxa brasa à sua sardinha.

   Além do intérprete de Florentina, entre os paulistanos existem muitas outras celebridades, alguns não tão famosos, mas conhecidos: Maguila, Mulher Pêra e Cameron Brasil. Um foi lutador de boxe, a Mulher Pêra faz o que mesmo? Ah, e a Brasileirinha. Isso mesmo: a moça que aderiu “Cameron” como nome artístico é atriz de filmes para adultos e seu slogan é “vote com prazer”. Não preciso nem comentar o resto. É isto o que chamamos de espetáculo da democracia?

   Não bastasse todo esse forrobodó, recebo esta tarde em meu trabalho um telefonema de uma empresa de pesquisas, tratando adivinhem do quê? Eleições 2010. A surpresa foi alguém perguntar a minha opinião. Em uma aula de “Pesquisa da Educação”, disciplina do meu curso, falávamos sobre tipos de pesquisas e eu comentei que embora a Dilma e o Serra possivelmente fossem para o segundo turno das eleições para presidente do país, eu ainda não havia sido consultada pelo Ibope e nem mesmo pelo Datafolha. As pesquisas realmente existem, e agora posso afirmar, são tendenciosas.

   Primeira pergunta da Bianca, operadora treinada do instituto de pesquisas: “Se as eleições fossem hoje, em quem você votaria para presidente? Dilma, Serra ou Marina Silva?” Acho que a mocinha esqueceu do Américo de Souza (PSL), Ivan Pinheiro (PCB), José Maria Eymael (PSDC), Levy Fidélix (PRTB), Plínio Sampaio (PSOL), Rui Pimenta (PCO) e do Zé Maria (PSTU).

   As outras questões perguntavam se votaria em Dilma ou Serra no segundo turno, se os dois teriam condições de comandar o nosso país (e prosseguia, indicando, em outras palavras, que nosso país está no auge do desenvolvimento econômico). Quem elaborou esse questionário? O Lula?

   Ignoraram os demais candidatos, sobrou a elite, os que pagam por pesquisas tendenciosas como essas. Questionei sobre as opções dicotômicas oferecidas (Dilma ou Serra) e a entrevistadora disse que eu poderia dizer: nenhuma das opções. E foi assim que a entrevista terminou.

   Como podemos acreditar que outros candidatos têm chance de ganhar ou que merecem nossos votos se eles não dispõem de iguais oportunidades para expor suas propostas? Como as pesquisas podem apontar a vitória de tais candidatos se sequer oferecem outras possibilidades?

   Lamentável. A ditadura militar que teve fim em 1985 nada nos ensinou, a liberdade e a democracia que conquistamos ao longo desses 25 anos não é tão perfeita quanto parecia no começo da nossa luta. Somos desprezados como os candidatos dos pequenos Partidos e Coligações. Concordo com o termo usado por um grande amigo e colunista “os anões ignorados”. Somos pequenos diante do grande circo montado, o show da democracia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário