terça-feira, 17 de abril de 2012

Quem faz a escola da Paz?

    Ainda não faz um ano que atuo como professora em anos iniciais em meu município, mas sinto que esses sete meses foram os mais longos e ricos em toda a minha vida. Para iniciar a minha carreira escolhi uma escola próxima da minha casa, de modo que a correria em função de deslocamento diminuiria, pois também trabalhava em outra empresa e cursava o último semestre de Pedagogia. 
    Jamais pensei que a escola escolhida possuía uma lista tão extensa de atos de violência publicados pela mídia. Fiquei assustada pela maneira que as pessoas reagiam quando dizia que tinha escolhido a E.M.E.F Marília Sanchotene Felice. Em nenhum momento pensei em desistir sem antes conhecer a escola, mas no fundo o medo do que estava por vir era enorme.
    A primeira impressão foi ótima, com a estagiária Alessandra me recebendo com um sorrisão, revendo minha professora de magistério e conhecendo a estrutura perfeita da escola. Porém todos os dias que entrava na sala de aula me frustrava um pouco, trazia um novo ponto de interrogação para casa, mas afinal por que meus alunos não melhoram? Por que brigam tanto? O que posso fazer para mudar? Minha turma foi um grande desafio, um verdadeiro teste vocacional, que só provou que se acredito na mudança a educação é o melhor caminho certo.
     Em novembro, final do ano letivo, sofri um acidente de moto e precisei me afastar da turma. Foi desesperador pensar que meu braço não estava bom, que não tinha previsão para voltar, pois a única coisa que não queria era abandonar a escola naquele momento. Ficar longe dos meus "danadinhos " era mais frustrante que o insucesso de qualquer atividade da aula. Percebi que eles me ensinaram a amar acima de qualquer ato de indisciplina, o carinho que recebia ali era muito especial, me fazia sentir especial.
   Na última semana a escola completou seu primeiro ano de existência, um ano cheio de desafios e de vitórias. Não existem alunos jogando cadeiras em professores e armados com tesouras, lá no Marília encontramos uma diretora incrível, que emprestou até seu vestido para uma formanda do ensino fundamental, uma vice-diretora cheia de energia para envolver todos com o Projeto da Paz, uma coordenação presente e parceira, colegas confiantes e competentes no que fazem. Descobri que o medo de fraquejar era de todos, que o amor pela escola também é de todos.
    Nada é fácil para os profissionais de educação. As mudanças e ajustes são necessários e possíveis, basta tentar e querer fazer a diferença. A escola Marília S. Felice está mudando muitas vidas, a minha já mudou.
Carta do Leonardo em dez/2011 




Carta da Maria Eduarda em dez/2011

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Infância, um tesouro a descobrir

A infância está cada vez mais ameaçada, através da violência, da sexualidade acentuada e incentivada em crianças pequenas e o jogo de empurra dos responsáveis pela educação.
Tenho convivido com crianças e educadores diariamente, isso promove incríveis aprendizagens e trocas, onde percebo que educar está muito difícil e apavorante tanto para os pais quanto para professores.
A violência é um grande problema presente na realidade de muitas crianças. Existem vários tipos de violência e todos eles causam uma reação defensiva na criança. Quando se aproximam de outros colegas, muitas vezes empurram, batem os ombros em quem se aproxima, não demonstram amizade e carinho pelo outro. Estão se defendendo, se protegendo da maneira como aprenderam, viram ou acham apropriado.
Outro fator relevante é a aceleração no desenvolvimento da sexualidade, ou melhor, o interesse se amplia de acordo com a intensidade de estímulos que recebem, e não são poucos. As imagens na televisão, fotos e vídeos nas redes sociais são apontadas como os maiores agravantes.
Porém, a orientação e garantia dos direitos da criança dependem principalmente da família. É preocupante que essa responsabilidade tem sido delegada apenas às escolas, como se as quatro horas diárias que as crianças passam nas instituições fossem suficientes para a sua formação integral enquanto ser humano. Educação vem de casa, a escola é a continuidade. E como é difícil continuar algo que começou errado, debater valores.
Uma amiga, também professora, reclamava das constantes mentiras e irresponsabilidade de seus alunos em mais uma volta de recreio escolar conturbada:
- Quem chutou a canela do fulano? Fui eu? Claro que foi. Também fui eu quem derrubou o beltrano na pracinha.
E ficou surpresa que mesmo após a dramatização excêntrica aos alunos, permaneceram todos com a famosa cara de paisagem, como se tudo fosse muito normal, ignorando todas as suas responsabilidades e culpas como os vilões das telenovelas.
As crianças só precisam ser crianças! Está na hora de resgatar a simplicidade, criatividade e alegria da infância. Jogar e brincar com amigos, acampar no pátio de casa, pular amarelinha, elástico, jogar bola de gude, empinar pipa, jogar futebol no campinho, pular corda, jogar peteca, brincar com vai e vem e bilboquê. E assim quando chover e fizer muito frio, o futebol até pode ser transferido para o vídeo game.

terça-feira, 15 de março de 2011

Dê preferência à vida

    A todo o momento presenciamos novas catástrofes resultantes de tempestades, terremotos e maremotos. Junto com bens materiais vão-se vidas e muitos sonhos interrompidos. Mesmo com tantos desastres acontecendo no mundo, acredito que o desrespeito à vida ainda é a maior ameaça para a humanidade.

    Como grande exemplo de egoísmo e intolerância está a guerra diária das ruas. O trânsito deveria ser um espaço de convivência seguro e eficaz, porém as estatísticas nos mostram que milhares de pessoas são vítimas fatais e outras tantas sofrem em vida com sequelas do desafio urbano de locomoção em segurança. Sofremos em doses homeopáticas, enquanto morrem centenas em decorrência de um desastre ecológico são 213 pessoas mortas no Brasil no último feriado de carnaval, resultantes dos quatro mil acidentes registrados segundo a revista Exame, de 10 de março deste ano. Vale ressaltar que são contabilizadas apenas as mortes instantâneas, deixando fora das estatísticas aqueles que falecem em decorrência dos acidentes. Não percebemos que pequenos descuidos e decisões erradas podem causar tanto sofrimento.

    Pode ser uma curva em alta velocidade, uma ultrapassagem arriscada, um descuido, sono, uma discussão pela preferência na passagem. Motivos fúteis? Pode ser, mas provocam catástrofes, tempestades das piores.

    A intolerância e desrespeito ao próximo chegou ao ponto de um motorista gaúcho jogar para cima, literalmente, ciclistas que realizavam um protesto em Porto Alegre em fevereiro deste ano. Pressa? Medo de represálias? Não importa. Por milagre, nenhuma vítima fatal. Infelizmente, muitos feridos.

    Sem precisar sair de Uruguaiana, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, deparei-me com um lamentável acontecimento. Estava fazendo treinamento no micro-ônibus da autoescola, parei num cruzamento e o motorista que conduzia um carro identificado com adesivos de uma empresa local, começou a buzinar intermitentemente. Quando concluí a conversão devidamente sinalizada, observei pelo retrovisor o gesto obsceno do condutor.

    O que eu deveria fazer? Avançar sobre os outros veículos com preferência de passagem? Começar uma briga com o condutor mal educado? Apenas reclamei para a empresa proprietária do veículo, porém o responsável pela mesma possivelmente fosse o motorista impaciente.

    O ser humano tem a capacidade ser tão violento e fatal quanto um tsunami, pois possui emoções descontroladas que podem ser uma ameaça de posse de uma arma de fogo, ou diante do volante de um veículo.

    Se um curso de formação de condutores não é suficiente para mudar a forma de agir e pensar de uma pessoa, são necessárias novas ações que busquem a sensibilização dos pequenos, crianças que ainda estão construindo sua personalidade e hábitos. Deixo neste espaço a minha indignação e revolta aos assassinos e intolerantes do asfalto.

    Veja também:

http://exame.abril.com.br/economia/brasil/noticias/acidentes-de-transito-durante-carnaval-matam-213-pessoas-no-brasil


sábado, 29 de janeiro de 2011

Difícil assumir que Te Amo

   Pensamentos do dia em que arrisquei dizer a frase temida, quase foi o fim, resta saber se hoje é um começo ou a continuidade.



    Enfim as barreiras foram quebradas. Mais de um ano se passou desde o primeiro encontro, porém nada que pudesse aprofundar a relação poderia ser dito.


    Entre muitos assuntos discutidos, outros eram evitados: Antigos namoros, futuro da relação e sentimentos comuns.

    Na cabeça dela um vai-e-vem de dúvidas, pensava, tentava codificar aquilo que sentia. Imaginava que ele sentia o mesmo, e às vezes tinha certeza que não era correspondida.

    Ensaiava frases, desconstruía frases, temendo mais uma relação mal sucedida, perda da liberdade a pouco conquistada, uma traição ou rejeição repentina. Despedia-se: Até nunca mais.

    Em frente ao computador admirava o perfil do amado, enquanto aguardava um e-mail ou ser chamado no bate-papo.

    Idas, vindas, investigações sigilosas sobre a fidelidade do pretendente a sabe-se lá o quê. Conselhos de amigas, pensamentos, delírios e novamente encontros.

    Sem perceber, sem raciocinar, sem ponderar arriscou um recado. Ficou surpresa em ler a resposta, enfim se libertou.

Eu te amo.

    Que seria essa frase? Um começo? Um fim? A continuidade?

domingo, 26 de dezembro de 2010

Vidas cruzadas

3º lugar no Concurso Farroupilha 2011


    Nossa existência é um presente divino. Não percebemos o quanto somos importantes na vida de outras pessoas, mesmo que estas não sejam tão próximas. Existem três acontecimentos que me fizeram refletir sobre minha existência: A leitura de um livro, meu irmão e a morte de um primo.

    O livro Veronika decide morrer do Paulo Coelho é uma história encantadora que conheci em 2002, indicado por uma amiga. Conta a história de uma mulher jovem e solitária que tentou suicídio ingerindo remédios, acorda dias depois no hospital psiquiátrico com o diagnóstico grave: sete dias de vida, apenas. Porém, na espera de sua partida ela decide viver cada minuto como se fosse o último e, assim, aproxima-se do esquizofrênico Eduard e eles fogem no sétimo dia. Ao acordar no dia seguinte ao lado do rapaz, ficou surpresa, ocorrera um milagre, estava viva . Seu diagnóstico era uma mentira sabiamente arquitetada pelo Dr. Igor, a maneira que ele encontrara de Veronika decidir viver.

    Ainda em 2002, conheci a história de uma família cuja mãe morreu após uma gravidez complicada e doenças respiratórias. O bebê teve que aprender desde cedo a lutar para sobreviver às doenças, a falta de cuidados de mãe e falta de recursos da família para cuidar e mantê-lo. Essa criança guerreira que passou por duas cirurgias e por todos esses problemas, hoje é parte da minha família, é meu irmão de coração, esbanja saúde, energia e alegria pela casa.

    O último e mais recente acontecimento foi a morte trágica e prematura de um primo, Emanuel, na data com 2 anos de idade. Foi vítima de um atropelamento, infelizmente não resistiu. Eu estava na sua casa no momento do acidente. Cheguei minutos antes para escolher um presente de aniversário para uma colega entre as bijuterias confeccionadas pela minha tia. Quando entrei na casa, deparei-me com uma carinha toda suja de sopa, estava sentado sozinho à mesa. Dei um beijo em sua bochecha, como de costume, foi o último. A mãe do menino estava grávida e presenciei os gritos, a correria, a culpa do motorista e a notícia inesperada.

    Cada uma dessas histórias me tocaram-me de uma maneira diferente: o livro, o irmão e o primo. Nunca pensamos o quanto somos importantes para a vida de alguém, de muitos na verdade. Quem diria que a criança que perdeu a mãe tão cedo faria parte da minha família? Quem imaginaria um ciclo de vida tão curto para o Emanuel? Como eu saberia que aquele seria o último contato com meu priminho? Paulo Coelho jamais pensou que suas palavras atingiriam com tanta persuasão a minha vida.

    Mesmo indiretamente, cruzamos a história de muita gente e a nossa existência faz a diferença. Precisamos acreditar que cada dia de vida é um milagre, que deve ser celebrado e bem vivido ao lado de pessoas que nos fazem feliz.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A nossa velha infância


    Existem datas especiais no calendário que nos fazem lembrar e presentear pessoas importantes na nossa vida. O comércio adora a Páscoa, o Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças, Natal e aniversários.

    No dia 12 de outubro deste ano estava conversando com um amigo e comentei que não havia sido convidada a participar de uma festa para crianças pelo meu irmão de oito anos, a resposta foi imediata: Acho que porque tu cresceu um pouquinho. Não satisfeita, questionei sobre o fato de crescermos, deixarmos a infância. Ele respondeu que na idade adulta devemos trabalhar e se estressar, contudo, podemos sair sozinhos à noite, viajar sozinhos, governar um país e mais uma lista de coisas “boas”.

    Mesmo com tantos argumentos tentadores continuo pensando que bom mesmo é ser criança. Existe fase melhor na vida que a infância? Eu trocaria as saídas à noite pelas muitas tardes brincando na rua, substituiria o trabalho, o salário e o estresse por oito horas de muita brincadeira, R$ 5 de mesada, muita risada sem hora marcada e pudor. Viajaria mas mil vezes com a família da minha amiga Jú, não governar nada mais que uma bicicleta, e ainda achar que todos os homens são lindos e perfeitos como o Ken (esposo da Barbie), que cansaço é chegar na fase do Céu no jogo de elástico, que sorte é acertar as pedrinhas na casa certa na Amarelinha e só ficar triste quando anoitece e a mãe grita no portão que está na hora do banho.

    Foi uma época incrível e as amigas eram ainda mais. As irmãs mais velhas sempre rabugentas mandavam eu chispar da casa delas. Esforço em vão, sempre estava lá, dias ensolarados, chuvosos, gelados, com catapora ou sarampo. Brincávamos de tudo. Éramos atrizes de novelas mexicanas, passistas do Carnaval do Rio de Janeiro, colecionadoras de brindes do Kinder Ovo, Paquitas da Xuxa, professoras e tudo mais o que a imaginação permitisse.

    Sempre é bom lembrar de momentos felizes, das brincadeiras simples e divertidas, dos jogos feitos com meia calça velha da mãe, com vassouras, bonecas, giz e pedrinhas. Os tombos com a minha Caloi Ceci vinho. Momentos saudosistas que também foram inspiração para o grande escritor Casimiro de Abreu em “Meus oito anos”: Oh! que saudades que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais.

    Mas os dias de Xou Xuxa, Trapalhões, He-Man, Caverna do Dragão, Pica-Pau e Mara Maravilha terminaram e o jeito é enfrentar as responsabilidades e compromissos que nos cabem com a mesma alegria de um convite para Amarelinha ou coisa do tipo.

     Carrego valores que nenhum computador ou MP15 podem ensinar, aprendemos com pessoas, através das brincadeiras de rua, da cumplicidade que construímos com amigos para esconder as travessuras dos "adultos".  Da minha infância restaram muitas lembranças boas e amigas quase-irmãs que me acompanham sempre, é o que guardamos de melhor na vida. Deixamos as bonecas e as panelinhas de lado, choramos juntas por um amor perdido, dividimos a culpa em devorar brigadeiros, nos emocionamos ao ver a amiga casar ou esperar um bebê. Sempre resta um pouquinho da criança que fomos um dia. 

sábado, 2 de outubro de 2010

Bem-vindos ao show da democracia

   Durante os últimos meses, os assuntos mais abordados nos lares brasileiros tratam das Eleições 2010. Neste ano devemos renovar os cargos de Presidente da República, Deputados Estaduais e Federais, Senadores e Governadores. São várias legendas, muitos candidatos e incontáveis promessas. A cada programa eleitoral somos obrigados a assistir o show de asneiras e agulhadas dos infinitos candidatos; uma pena que aqueles que realmente têm propostas sérias não possam se expressar. Difícil eleger alguém que tem poucos segundos para falar, que sequer gravamos o nome e, infelizmente, esquecemos sua legenda.

   Não disponho de muito tempo para assistir horário eleitoral gratuito, pois justamente nesses horários estou me deslocando para o trabalho e para a universidade, mas essa falta de tempo é suprida nos finais de semana, quando recebo vários e-mails contanto os furos e absurdos mostrados na TV aberta, sem contar com a lista de vídeos “bizarros” de campanhas políticas postados no Youtube. Alguns parecem quadros de programas humorísticos.

   Falando em humor, não deixaria de lembrar do abestado, o Tiririca. Com o slogan “vote Tiririca, pior do que está não fica" conseguiu conquistar muitos votos. Já que está tudo liberado entre os engravatados e ninguém faz nada pelo povo, ao menos o nordestino foi criativo o suficiente para causar indignação enquanto puxa brasa à sua sardinha.

   Além do intérprete de Florentina, entre os paulistanos existem muitas outras celebridades, alguns não tão famosos, mas conhecidos: Maguila, Mulher Pêra e Cameron Brasil. Um foi lutador de boxe, a Mulher Pêra faz o que mesmo? Ah, e a Brasileirinha. Isso mesmo: a moça que aderiu “Cameron” como nome artístico é atriz de filmes para adultos e seu slogan é “vote com prazer”. Não preciso nem comentar o resto. É isto o que chamamos de espetáculo da democracia?

   Não bastasse todo esse forrobodó, recebo esta tarde em meu trabalho um telefonema de uma empresa de pesquisas, tratando adivinhem do quê? Eleições 2010. A surpresa foi alguém perguntar a minha opinião. Em uma aula de “Pesquisa da Educação”, disciplina do meu curso, falávamos sobre tipos de pesquisas e eu comentei que embora a Dilma e o Serra possivelmente fossem para o segundo turno das eleições para presidente do país, eu ainda não havia sido consultada pelo Ibope e nem mesmo pelo Datafolha. As pesquisas realmente existem, e agora posso afirmar, são tendenciosas.

   Primeira pergunta da Bianca, operadora treinada do instituto de pesquisas: “Se as eleições fossem hoje, em quem você votaria para presidente? Dilma, Serra ou Marina Silva?” Acho que a mocinha esqueceu do Américo de Souza (PSL), Ivan Pinheiro (PCB), José Maria Eymael (PSDC), Levy Fidélix (PRTB), Plínio Sampaio (PSOL), Rui Pimenta (PCO) e do Zé Maria (PSTU).

   As outras questões perguntavam se votaria em Dilma ou Serra no segundo turno, se os dois teriam condições de comandar o nosso país (e prosseguia, indicando, em outras palavras, que nosso país está no auge do desenvolvimento econômico). Quem elaborou esse questionário? O Lula?

   Ignoraram os demais candidatos, sobrou a elite, os que pagam por pesquisas tendenciosas como essas. Questionei sobre as opções dicotômicas oferecidas (Dilma ou Serra) e a entrevistadora disse que eu poderia dizer: nenhuma das opções. E foi assim que a entrevista terminou.

   Como podemos acreditar que outros candidatos têm chance de ganhar ou que merecem nossos votos se eles não dispõem de iguais oportunidades para expor suas propostas? Como as pesquisas podem apontar a vitória de tais candidatos se sequer oferecem outras possibilidades?

   Lamentável. A ditadura militar que teve fim em 1985 nada nos ensinou, a liberdade e a democracia que conquistamos ao longo desses 25 anos não é tão perfeita quanto parecia no começo da nossa luta. Somos desprezados como os candidatos dos pequenos Partidos e Coligações. Concordo com o termo usado por um grande amigo e colunista “os anões ignorados”. Somos pequenos diante do grande circo montado, o show da democracia.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

FELICIDADE REALISTA


Mario Quintana




     A princípio bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar a luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio. Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade. Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar É importante pensar-se ao extremo, buscar lá d entro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.
 
 
Acho que todos fantasiamos a FELICIDADE, como se ela fosse o auge de alguma coisa, e matutando maneiras de chegar até ela que sequer saímos do ponto de partida, ou melhor, nem percebemos que a felicidade pode estar nas pequenas coisas, no dia a dia, e esse não é o ponto de partida e sim a felicidade realista descrita por Quintana.
Nossa vida não pode se resumir em correr atrás da dita felidade, a frustração e a cobrança em exagero podem ser motivo de nossa infelicidade. "Se a meta está alta demais, reduza-a."
Seja realista, seja felizzzz!!!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O que nos ensinam os cachorros


  Nos últimos meses tenho conversado bastante com meus botões, tentando entender algumas coisas intrigantes nas relações interpessoais, coisas que estão me causando conflitos: Será que é errado nos dias de hoje, ainda acreditar em lealdade? Ou crer na existência desse valor é como acreditar em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Fada do Dente, etc.? Será que somos leais como pensamos ser?

  Essa palavrinha tão conhecida e pronunciada veio por acaso em minha mente enquanto relembrava acontecimentos, algumas desilusões que sofri. Bateu a curiosidade, infelizmente não tenho um Houaiss com 228 mil verbetes e 380 mil definições na cabeceira da cama, por esse motivo recorri ao pai de todos: o Google. A revista Pais & Filhos (versão online) explicou que “a palavra leal vem do latim legális, que quer dizer digno, fiel.” Também encontrei outras definições na web: “Ser leal é ser confiável, é não trair aquele que confia e conta com você. É ser confiável e leal a determinada marca, seu produto e organização” ou ainda “é quando a gente prefere morrer que trair a quem ama.”

  Muito linda a palavra Lealdade, agora vamos tentar encontrar um exemplo prático. Pensei em amigos, pensei em uma relação amorosa e pensei nos meus cachorros. Em uma das poucas brigas que tive com minha amiga de infância recordo que ela me acusava de ter falado demais, deixar escapar um fato ocorrido na sede do Pentágono, na sua casa. Ficamos um pequeno período sem conversar, mas o fato de ter sido desleal com alguém que eu gosto muito, me roubou o sono e a paz, nesse dia preferia ter morrido, ou um pouco menos, sumir por uns tempos para poder ter coragem de me intitular amiga novamente. Amigos podem errar não é? Mas insistir no erro é mais que burrice.

  Chegamos ao clímax do texto, as relações amorosas. Sempre amei as Princesas da Walt Disney, que menina não se encantaria com desenhos tão simpáticos e com finais românticos e felizes? Mas o que acontece com a Cinderela, a Bela, a Branca de Neve e a Bela Adormecida depois de casar com o príncipe encantado? Se elas vivessem no nosso século, provavelmente se divorciariam: Por descobrir uma traição do Príncipe, por perceber que se tratava na verdade de um sapo, uma súbita necessidade de liberdade e troca do lema de vida: “Solteiro sim, sozinho nunca!.” Ou melhor, encontraram um príncipe não tão encantado, mas com atributos suficientes para convencer a largar casa, marido, panelas, filhos, gatos e profissão. Invenção? Pura realidade. As relações são descartáveis, infelizmente. Se lealdade é um dos principais adjetivos que buscamos no outro e ser leal é ser confiável, porque estar com alguém que precisamos vasculhar celular para certificar-se da fidelidade ou infidelidade?

  Puxa, se não podemos contar com amigos, se é impossível confiar em príncipes como o Charles de Gales, em quem confiar? É claro, nos cachorros. Quando nos aproximamos eles vibram, sacodem a cola, latem, pulam, fazem a festa. Quando estamos tristes nos consolam encostando seus focinhos em nosso colo, compartilham dos eventos em família, dos passeios, são ótimos ouvintes. Não falam mal de seus donos, estão sempre conosco, não nos traem e nem mesmo abandonam, exemplos disso são os cães dos moradores de rua, aquecem e acompanham seus amigos em dias de sol e tempestade. Existe ser mais digno, fiel e confiável que o cachorro? Quem dera que homens e mulheres fossem cachorros.

  Porém não podemos conviver apenas com cães, também não é possível entender ao pé da letra que lealdade “é quando a gente prefere morrer que trair a quem ama,” por nessa linha de raciocínio, na tentativa de ser leal seríamos também suicidas. Mas ainda vale acreditar que o amor verdadeiro existe e que o tio da Lealdade, o Sr. Respeito, também está vivo e muito bem casado com a Dona Sinceridade, levar um pouquinho dos valores dessa família para nossa vida e nossos atos pode nos tornar mais próximos dos adoráveis cachorros.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Muito mais que professoras





   São eles os responsáveis pela formação de profissionais conceituados, pela inserção das crianças no mundo da escrita. Entre outras habilidades, suportam o julgamento de leigos culpando-os pelo fracasso escolar. Isso mesmo são os professores.

   Numa conversa informal com colegas de trabalho ouvi histórias inacreditáveis sobre seus professores. Imaginem só uma professora de séries iniciais (décadas de 70 e 80) que assustava seus alunos dizendo haver uma kombi que pegava sangue de crianças e um bandido chamado Leão cortava com gilete quem ficava na frente da escola após a aula. Foi o que relatou uma colega, descrevendo, ainda, que ia para casa correndo de mãos dadas com uma amiga, quando passavam por alguma Kombi ficavam em pânico e choravam muito. Outra triste história foi de um colega cujas orelhas eram puxadas toda vez que conversava durante a aula, algumas vezes a professora batia na mesa com uma régua de madeira para assustá-lo, era falar com o colega do lado para levar aquele puxão de orelha, literalmente.

   Posso me considerar uma pessoa imensamente sortuda, pois tive professoras incríveis, em especial na pré-escola e primeiros anos do ensino fundamental. Como esquecer a Tia Isabel que nos ensinava cantigas, acompanhava na realização de trabalhos, organizava a fila para a higiene, tudo com voz baixa, firme e sem agressões. Ela sabia o nome do todos, mesmo que já tivessem passado anos. E a Tia Ester? Era atenciosa, delicada, falava bonito (tudo certinho) e parecia as Barbies que eu colecionava com seus cabelos longos repleto de cachos nas pontas.

   Talvez a imagem que guardei das professoras tenha influenciado na minha escolha profissional. Quando criança tinha fascinação por quadro negro e giz. Hoje formada no Curso Normal (Magistério) e cursando ensino superior em Pedagogia, reafirmo meu desejo de fazer a diferença e educar com toda a dedicação que um dia recebi.

   Os papéis mudaram, a família batalha para manter o sustento da casa e as crianças passam a maior parte do tempo nas escolas (atividades extracurriculares, oficinas, etc.), situação que transforma o professor em super, ultra, mega-herói, responsável também pelo desenvolvimento afetivo e moral de seus alunos. A tarefa é árdua, mas não queremos ser vistos como os professores indiferentes e agressivos descritos por meus colegas, não é? Devemos fazer o melhor para sermos guardados com carinho nas lembranças e coração daqueles a quem nos dedicamos.

domingo, 4 de abril de 2010

Quem conhece um mulherão?


Esses dias fui ao mercado, e enquanto esperava pelo atendimento do caixa percebi uma face familiar. Encarou-me. Sumiu. Logo a dona da face reapareceu e com voz humilde e um tanto simpática perguntou se meu nome é Bruna. Respondi que sim e lembrei quem é a moça.
Alguns anos atrás fui substituir uma professora, na escola conheci pessoas legais que me acolheram com carinho e respeito (algo geralmente incomum a uma inexperiente estagiária do curso normal), senti que alguém me admirava. Era a moça do mercado, que por anos se dedicou ao trabalho voluntário na escola. Levava o filho para a aula no turno da tarde e nesse período dedicava sua atenção às crianças da pré-escola. Conversamos muito, me contou que casou cedo, engravidou e desde então sua vida se resumia em doação: ao marido, ao filho, tarefas de casa e voluntariado. Mas que o cônjuge não permitia que voltasse a estudar ou que trabalhasse "fora". Talvez eu representasse a juventude que não aproveitou o quanto gostaria, ou a realização de um sonho dela, ser professora ou pelo menos ter uma profissão.
Quando revi a moça trabalhando no mercado, me senti feliz, foi uma conquista. Sentir-se útil, ter seu salário, deixar aflorar o mulherão que tanto tempo reprimiu.
Acredito que mulherão é quem batalha todo o dia, como a moça do mercado, que cuida da casa, do marido, trabalha "fora", cuida de sua imagem (ela está mais bonita), ou como descreveu Martha Medeiros em sua crônica O MULHERÃO, "aquela que mata um leão por dia".
Mulherão para mim são mulheres que vemos todo dia, estudantes, donas de casa, empresárias e todo tipo de mulher que vai a busca dos sonhos, que mantém sua identidade, que TPM nenhuma derruba.
Se algum dia fui motivo de admiração para essa moça, hoje a admiro pela coragem de mudar, pela volta por cima, por ser um mulherão de verdade!

domingo, 28 de março de 2010

Reticências

Passeio meus olhos na imensidão do teu olhar
E na largura franca deste sorriso aberto
A risada frouxa e sincera
E umas bochechas que coram assim que me achego

Ria, porque me faz feliz
Articule as doces palavras que me alegram ouvir
Mas não sussurre ao meu ouvido
Pois o frio na espinha tirará o controle

Nem te aproximes muito
É perigoso
É arriscado
É delicioso

Sabor de perdição
Cuidado para não te ferires
Tua pele não poderá tocar a minha

Ai, que sensação estranha
Teu cheiro me invade
Uma mão que repousa sobre a outra
E o olhar de Medusa que me trava

Venha, ame, saboreie
Faça graça
Seja nitroglicerina
E deixe no ar aquele carinhoso olhar pelo qual me apaixonei


Giovani Gelati

www.letrasemate.blogspot.com
http://avidaemprosa.vilabol.uol.com.br/

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A vendedora de Sorrisos

Quando crianças costumamos viajar no mundo da imaginação. Viver coisas absurdas e incríveis, podemos fingir ser da Liga da Justiça, ser astronauta da NASA ou qualquer profissão (podemos inclusive inventar uma nova).
Costumava ficar horas brincando sozinha na sala de minha casa, era uma vendedora diferente:Vendia sorrisos.
Uma brincadeira tão absurda que contei somente à um amigo e então a história se tornou um texto e agora é também um vídeo.

Assista!!!


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ousar é preciso

9º lugar no Concurso Literário Lari Franceschetto 2010 de Triunfo / RS



Já faz alguns meses que venho desafiando meus limites e quebrando regras que criei para me proteger do “mundo”, é claro que essa minha ousadia teve consequências maravilhosas, mas também fez com que “quebrasse a cara”, como costumamos dizer.
Aprendi a julgar menos, podemos estar na mesma situação e sequer percebemos. Através de um amigo aprendi a não ter vergonha do que sinto e muito menos do que escrevo, meus desabafos e idéias um pouco utópicas, ou antigas, até mesmo românticas e fora de moda.
Ousei em muitos aspectos, mudei minha cabeça! Decidi deixar as coisas acontecerem e não ter medo de dizer SIM as oportunidades. Resultado? Um amor acabado, um recomeço frustrado e uma semana de merecidas férias no paraíso. Praia, sol, areia e paisagens maravilhosas.
Mas escrevo para expor o que muitos escondem: Quem realmente são. Pensam e falam o que os outros querem ouvir, não expressam o que sentem por medo do que a maioria vai pensar ou que não serão aceitos no grande grupo. Indo contra essas idéias alienadas e pouco dinâmicas um casal apaixonado invadiu uma praia lotada para gravar seu clipe de casamento. Usavam roupas brancas, ele com prancha de surf e ela com um buquê, cena clássica de casamento em um lugar inusitado. Encenam uma sequência romântica frente a dezenas de turistas, embalados pelo som do mar e movimento das ondas. As pessoas perguntavam se estavam de fato casando ou filmando uma curta-metragem? Acompanhamos toda a filmagem que iniciou no mar e estendeu-se até o topo do morro de pedras. Lindo! Quantos de nós teriam a coragem de expressar seu amor na presença de tantos desconhecidos, em locais públicos e com roupas tão diferentes das demais?
Seja para garantir uma boa recordação no clipe do casamento, para demonstrar amor, para sentir a liberdade ou para conquistar algo que parece improvável, ouse! Extravase! Supere-se!O importante é se sentir bem e sem vergonha de mostrar quem é e o que pensa.
O que as pessoas vão pensar? Deixem que pensem, pois jamais terão coragem para fazê-lo. Muitos disseram que o casal “pagava mico”, que era ridículo, que queriam chamar a atenção, etc. e tal, eu achei perfeito e eles não pareciam se preocupar com o que pensávamos. Tente mudar os pré conceitos que criou ao longo de sua história. Ousar é preciso!

 

sábado, 30 de janeiro de 2010

Como se fosse a primeira vez

Todo escritor tem uma fonte inspiradora, pode ser uma pessoa especial, uma história de amor ou até mesmo um fatos do cotidiano. Li há pouco tempo uma reportagem de Letícia Mendes chamada O guardião de memórias, e a história relatada me encantou. É de uma beleza e romantismo sem tamanho.
A reportagem conta a história de amor de Gino e Wanda (87 e 83 anos, respectivamente). O esposo escreveu a biografia da amada para que as lembranças não se percam no tempo e durante o avanço da doença de Wanda, o Alzheimer, uma enfermidade neurodegenetiva que provoca a perda progressiva de memória.
O livro do apaixonado Gino recorda o amor de sete décadas vivido pelo casal. Entre letras e fotos os momentos são relatados para Wanda, que já não caminha e tem dificuldades para se comunicar. Residem em Encantado–RS, não poderia ter outro cenário.
Quem não chorou ou pelo menos engasgou ao ver o filme Como se fosse a primeira vez onde a personagem Lucy (Drew Barrymore) vive uma linda história de amor e no dia seguinte não se lembra de nada. Henry (Adam Sandler) encontra uma maneira de fazer Lucy reaver lembranças, passa a produzir vídeos onde conta os principais acontecimentos após o acidente que provocou a doença da amada, entre eles o seu casamento e a maternidade. Assim todas as manhãs ela recorda sua história e se apaixona como se fosse a primeira vez.
São poucas as pessoas que se dedicam integralmente a um amor, tamanha são as exigências do trabalho, rotina e compromissos. O que valerá mais no fim da vida: ter tido uma carreira brilhante ou viver uma linda e longa história de amor?
O filme americano e a história do guardião de memórias são a inspiração dos românticos inveterados, aqueles que ainda acreditam que a vida pode ser fascinante quando duas pessoas se amam de verdade, são palavras do apaixonado escritor Gino.