terça-feira, 17 de abril de 2012

Quem faz a escola da Paz?

    Ainda não faz um ano que atuo como professora em anos iniciais em meu município, mas sinto que esses sete meses foram os mais longos e ricos em toda a minha vida. Para iniciar a minha carreira escolhi uma escola próxima da minha casa, de modo que a correria em função de deslocamento diminuiria, pois também trabalhava em outra empresa e cursava o último semestre de Pedagogia. 
    Jamais pensei que a escola escolhida possuía uma lista tão extensa de atos de violência publicados pela mídia. Fiquei assustada pela maneira que as pessoas reagiam quando dizia que tinha escolhido a E.M.E.F Marília Sanchotene Felice. Em nenhum momento pensei em desistir sem antes conhecer a escola, mas no fundo o medo do que estava por vir era enorme.
    A primeira impressão foi ótima, com a estagiária Alessandra me recebendo com um sorrisão, revendo minha professora de magistério e conhecendo a estrutura perfeita da escola. Porém todos os dias que entrava na sala de aula me frustrava um pouco, trazia um novo ponto de interrogação para casa, mas afinal por que meus alunos não melhoram? Por que brigam tanto? O que posso fazer para mudar? Minha turma foi um grande desafio, um verdadeiro teste vocacional, que só provou que se acredito na mudança a educação é o melhor caminho certo.
     Em novembro, final do ano letivo, sofri um acidente de moto e precisei me afastar da turma. Foi desesperador pensar que meu braço não estava bom, que não tinha previsão para voltar, pois a única coisa que não queria era abandonar a escola naquele momento. Ficar longe dos meus "danadinhos " era mais frustrante que o insucesso de qualquer atividade da aula. Percebi que eles me ensinaram a amar acima de qualquer ato de indisciplina, o carinho que recebia ali era muito especial, me fazia sentir especial.
   Na última semana a escola completou seu primeiro ano de existência, um ano cheio de desafios e de vitórias. Não existem alunos jogando cadeiras em professores e armados com tesouras, lá no Marília encontramos uma diretora incrível, que emprestou até seu vestido para uma formanda do ensino fundamental, uma vice-diretora cheia de energia para envolver todos com o Projeto da Paz, uma coordenação presente e parceira, colegas confiantes e competentes no que fazem. Descobri que o medo de fraquejar era de todos, que o amor pela escola também é de todos.
    Nada é fácil para os profissionais de educação. As mudanças e ajustes são necessários e possíveis, basta tentar e querer fazer a diferença. A escola Marília S. Felice está mudando muitas vidas, a minha já mudou.
Carta do Leonardo em dez/2011 




Carta da Maria Eduarda em dez/2011